
O Brasil entra na segunda metade de 2025 com um ativismo internacional vigoroso e algumas conquistas sociais genuínas, mas ainda enfrenta alta inflação, crédito caro e profundas divisões políticas internas.
Alguns números:
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Crescimento: A economia cresceu 3,4% em 2024 e, após um primeiro trimestre surpreendentemente forte, o Ministério da Fazenda agora projeta um crescimento de 2,4% para 2025 (bancos privados estimam algo em torno de 2,2%). agenciadenoticias.ibge.gov.brreuters.comitau.com.br
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Inflação e taxas: O IPCA anual permanece acima da meta em cerca de 5,2%, por isso o Banco Central manteve a Selic em 14,75% (maio de 2025) após seis aumentos consecutivos, sinalizando que não haverá alívio antes de 2026. reuters.comtradingeconomics.com
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Moeda: A queda de 27% do ano passado fez o real ultrapassar R$ 6/USD, mas a construção de confiança parcial e a leve alta nos preços das commodities recuperaram cerca de 2% em 2025. tradingeconomics.com
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Dívida e gastos: A dívida bruta está em 78,6% do PIB, enquanto o aperto fiscal de R$ 70 bilhões (US$ 11,8 bilhões) em novembro de 2024 ainda não apresentou um caminho claro para o superávit primário. en.mercopress.com
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Mudança verde vs. impulso do petróleo: O Plano de Transformação Ecológica de Lula (zero desmatamento ilegal até 2030, financiamento de empregos verdes) está em conflito com o investimento de R$ 110 bilhões da Petrobras em 2025-29, incluindo perfurações controversas na margem da Amazônia, que estão avançando lentamente pelo Ibama. reuters.com
O crescimento ainda é respeitável em um ambiente de altas taxas e a situação fiscal não é pior do que a de outros países, mas a combinação de taxas de inflação deixa pouco espaço para estímulos.
Em 19 de fevereiro de 2025, o Supremo Tribunal Federal indiciou formalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro e 33 assessores por um suposto plano de golpe e assassinato para impedir a posse de Lula em 2023. reuters.com O tribunal já condenou 643 pessoas pela invasão da praça federal de Brasília em 8 de janeiro de 2023—mais do que o dobro do número do ano passado. en.mercopress.com Bolsonaro continua impedido de ocupar cargos eletivos até 2030; a direita está testando figuras sucessoras como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e Ratinho Júnior, do Paraná. Um veredicto do Supremo Tribunal no julgamento do golpe—esperado para o final de 2025—vai moldar a estratégia conservadora para 2026.
As eleições municipais de 2024 confirmaram a força do centrão de direita, enquanto o Partido dos Trabalhadores (PT) manteve apenas dez grandes cidades. A violência política continuou a crescer, com 558 ataques documentados a candidatos e trabalhadores de campanha. Lula terá 81 anos no dia da eleição em 2026 e já passou por duas cirurgias desde 2023; o PT não possui um sucessor em ascensão, enquanto a direita pode se unir em torno de vários governadores, mesmo que Bolsonaro esteja legalmente afastado. A coalizão de Lula busca ganhos no Senado em 2026 para contrabalançar uma maioria de direita na câmara baixa que frequentemente altera ou paralisa projetos do executivo.
Entretanto: | |
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Fome e pobreza | Programas do governo (Bolsa Família, alimentos mais baratos) tiraram 24,4 milhões de pessoas da insegurança alimentar severa até o final de 2024; pesquisas independentes confirmam pelo menos 13 milhões somente em 2023. gov.brglobalallianceagainsthungerandpoverty.org |
Violência policial | 4.565 mortes por policiais registradas até setembro de 2024; >80% das vítimas eram negras. As reformas para conter as operações letais continuam irregulares. hrw.org |
Amazônia | Dados do INPE mostram que o desmatamento caiu cerca de 50% em 2023-24 em comparação ao ano anterior, embora os incêndios tenham aumentado no Cerrado. en.wikipedia.org |
O Brasil impulsionou um consenso na Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, agora assinada por 88 países, e pressionou por reformas no FMI e na OMC—vitórias raras para o Sul Global. en.wikipedia.org Com um BRICS ampliado (agora com 11 membros), Brasília está promovendo a ideia de um “banco de desenvolvimento verde” e mediando posições comuns sobre governança de inteligência artificial e financiamento climático—embora as ameaças dos EUA de tarifas de 10% sobre as exportações do BRICS mostrem como esse espaço é contestado. reuters.com
A escolha de uma cidade amazônica (sede da COP 30 em Belém, novembro de 2025) ressalta a promessa de Lula de zero desmatamento ilegal até 2030 e posiciona o Brasil como um convocador climático. en.wikipedia.org
A narrativa credível do Brasil contra a fome, a redução da perda de árvores na Amazônia e a política externa de vacinas para todos revitalizaram grande parte do poder brando que havia sido corroído na última década. Mas … os altos custos de empréstimos e uma taxa de inflação ainda persistente diluem esse brilho. Perguntas permanecem sobre as ambições da Petrobras em águas profundas e a integridade dos mercados de carbono voluntários, destacadas por recentes exposés de projetos “greenwashed” na Amazônia. reuters.com
O Brasil está inegavelmente “de volta” ao palco mundial—hospedando, mediando e definindo normas—enquanto entrega progresso real (embora incompleto) em florestas e segurança alimentar. A credibilidade do país dependerá, em última análise, de traduzir essas promessas de cúpula em disciplina fiscal sustentada em casa, redução da desigualdade e uma queda inegável na criminalidade violenta.
A história do Brasil para 2025 é uma de otimismo comedidos: o crescimento está desacelerando, mas ainda supera muitos pares; o desmatamento e a fome estão recuando; e Brasília é novamente uma voz central na governança global. No entanto, a inflação, um pesado âncora de taxa de juros e profundas divisões partidárias permanecem desafios teimosos. Se a coalizão de Lula ou um bloco sucessor de direita emergente conseguirá convencer os eleitores em 2026 dependerá de manter os fundamentos macroeconômicos estáveis—e de provar que a nova era de visibilidade global traz benefícios concretos nas ruas brasileiras.